O Dia Internacional da Mulher traz mais Reflexão que Comemoração
Feche os olhos e imagine um mundo onde o potencial não tem gênero. Um universo onde o talento, a criatividade e a competência são os únicos passaportes para o sucesso. Agora, abra os olhos e perceba que esse mundo ainda é um sonho distante quando analisamos a realidade do mercado de trabalho. Estamos em 2025, um ponto de inflexão na história das mulheres. Não mais coadjuvantes, mas protagonistas de uma transformação profunda e irreversível nos mais diversos campos profissionais. Cada conquista é um terremoto silencioso que redesenha as estruturas de poder estabelecidas há séculos.
A Radiografia Brutal dos Números
Os outros 364 dias para as mulheres:
- 17,5% de representação no Congresso Nacional
- 27% de cargos executivos nas grandes empresas
- 3,4% de executivas negras
- Diferença salarial: Mulheres ganham em média 20% menos que homens
Apesar de representarem a maioria da população e do eleitorado no Brasil, mulheres continuam enfrentando desafios significativos para alcançar posições de poder nos partidos políticos do país. Os dados mais recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que elas representam apenas 30% dos integrantes dos órgãos nacionais dos maiores partidos políticos brasileiros, incluindo PL, PT, União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, PDT, PSB e PSDB. Este índice destoa da composição eleitoral, onde as mulheres são 53% do eleitorado.
A Desigualdade de Gênero Persistente
A desigualdade de gênero nas estruturas partidárias brasileiras é evidente ao observar que a participação feminina é majoritariamente em cargos de menor poder decisório. Segundo o Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP), mesmo nos termos dessa participação limitada, a esquerda apresenta relativamente melhor inclusão, com 35% das mulheres nos cargos partidários, comparado a 27% na direita e 22% no centro.
Glass Cliff: Vulnerabilidade e Desafios de Liderança
O fenômeno do “glass cliff” destaca a vulnerabilidade que as mulheres enfrentam ao ascenderem a posições de liderança, frequentemente em contextos de crise onde a possibilidade de fracasso é maior. O caso de Gleisi Hoffmann, que liderou o PT em períodos tumultuados, inclusive agora, exemplifica essa dinâmica intrincada e os desafios associados à manutenção de posições de poder. O PT se destacou entre os partidos com maior participação de mulheres em cargos de direção, sendo pioneiro na adoção da paridade de gênero em seus estatutos. Contudo, análises de dados de 2018 a 2022 mostram que, apesar de esforços como cotas para mulheres, sua representação efetiva ainda é comprometida pela desigualdade interna nos partidos. Estudos recentes mostram que elas ocupam menos de 15% dos cargos de liderança regionalmente.
Impacto na Democracia e Iniciativas em Curso
A cientista política Liliane Gobetti Fagundes destaca que a presença reduzida de mulheres na liderança partidária impacta diretamente a representatividade nas eleições, prejudicando a qualidade da democracia. Embora partidos como MDB, PT, União Brasil e PSD estejam adotando iniciativas para aumentar a participação feminina, como o projeto Defesa Lilás e o PSD Mulher, ainda há um longo caminho a percorrer.
- O MDB afirma ter sido o partido que mais elegeu mulheres em 2024, destacando a importância de ações afirmativas.
- O PT foi pioneiro na implementação da paridade de gênero em seus estatutos e continua a liderar na representação feminina.
- O União Brasil prioriza a ampliação da presença feminina, mencionando projetos como o “Defesa Lilás”.
- O PSD sublinha a força de suas lideranças femininas eleitas, promovendo o PSD Mulher para fomentar a participação.
Barreiras Estruturais: Muito Além do Teto de Vidro
Assédio Institucional
- 62% das mulheres relatam assédio no ambiente corporativo
- Maior vulnerabilidade em cargos de liderança
- Maternidade ainda é Obstáculo
- 38% de mulheres líderes com filhos menores
- 66% de homens lideram na mesma condição
- Violência Simbólica
- Interrupções sistemáticas em reuniões
- Desqualificação de competências
- Invisibilização de contribuições
Apesar dos progressos, a sub-representação das mulheres nos espaços de poder político no Brasil continua sendo um desafio. A implementação de políticas afirmativas e uma revisão cultural e estrutural dentro dos partidos são cruciais para superar essas barreiras. Conforme caminha-se para um futuro político mais equilibrado, faz-se necessário um compromisso contínuo com a igualdade de gênero, garantindo que a democracia brasileira seja verdadeiramente inclusiva e representativa. Organizações como a #ElasNoPoder desempenham um papel crucial ao buscar aumentar a participação das mulheres na política e fortalecer suas atuações nos espaços de poder. Com programas de treinamento e iniciativas educativas, estas entidades provêm uma base de apoio significativa para garantir que as mulheres não apenas entrem na arena política, mas floresçam nela.