Ameaça de Novos Vírus Impulsiona Transformações na Saúde Brasileira
Em meio ao temor de que novas pandemias possam surgir, inspirando-se no devastador impacto do coronavírus, o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, Eleuses Paiva, revela um ambicioso plano para transformar o Instituto Butantan em um verdadeiro centro de operações para resposta rápida. Segundo Eleuses, o objetivo é criar um espaço de produção acelerada de vacinas e medicamentos que possa enfrentar, de maneira eficiente, os próximos desafios sanitários.
A Transformação em Resposta à Crise
Desde que assumiu a Secretaria da Saúde há pouco mais de dois anos e quatro meses, Eleuses Paiva vem implementando reformas profundas para reverter os danos deixados pela pandemia. Em entrevista à Folha, o secretário enfatizou que “tudo o que nós vimos na Covid vai acontecer novamente. Precisamos nos preparar”.
Assim, com a experiência adquirida durante a crise sanitária, ele passa a articular uma estratégia que envolve tecnologia, inovação e regionalização dos serviços de saúde.
Uma das principais medidas adotadas foi a regionalização da saúde – uma resposta para a heterogeneidade do estado, marcado por regiões de alto e baixo desenvolvimento. Ao permitir que cada município apresente suas demandas específicas, São Paulo tem buscado adequar a oferta de serviços, especialmente em áreas críticas como o diagnóstico e tratamento do câncer de mama e procedimentos ortopédicos. Esse modelo, aliado à “Tabela SUS Paulista”, que corrige antigas defasagens na remuneração dos procedimentos hospitalares, tem propiciado a reativação de mais de 6 mil leitos desativados e o aumento expressivo no número de cirurgias eletivas.
Revitalização e Expansão dos Serviços de Saúde
O secretário detalhou que, diante do colapso enfrentado na gestão anterior – agravado pelo passivo pandêmico e pelo grande número de pacientes com doenças crônicas sem acompanhamento – foram realizadas intensas transformações. “Fizemos algumas modificações estruturais no SUS do estado de São Paulo para colocar as filas para andar”, afirmou Eleuses, lembrando dos desafios e das soluções encontradas.
Entre as estratégias implementadas, destaca-se também a parceria com o setor privado, visando ampliar a oferta de leitos e reduzir os tempos de espera dos pacientes. Em Campinas, por exemplo, medidas emergenciais permitiram reduzir a espera para procedimentos cirúrgicos e oncológicos, com números que chegam a um máximo de 60 dias, muito abaixo dos índices historicamente registrados.
O Futuro da Produção de Vacinas
A segurança sanitária está no centro dos planos de Eleuses Paiva. Com a ameaça constante de novos vírus e bactérias – e até de futuras pandemias – o Instituto Butantan será transformado em um complexo industrial capaz de produzir, em tempo recorde, vacinas e medicamentos. Em especial, a produção da vacina contra a dengue já está planejada para iniciar em 2025, com capacidade para 100 milhões de doses e perspectivas de uma expansão para atender a outros países na América do Sul. “Se eu tenho um vírus novo, preciso criar algum jeito de combatê-lo”, ressaltou o secretário, enfatizando a importância da preparação para cenários futuros.
Saúde Digital: Um Legado Positivo da Pandemia
Entre os avanços promovidos pela crise, a digitalização dos serviços de saúde se destacou. Inspirado em modelos internacionais, como os adotados nos Estados Unidos e no Reino Unido, o estado tem investido num robusto projeto de saúde digital, utilizando a expertise da Universidade de São Paulo (USP). O novo Centro Líder de Inovação Digital mapeia o atendimento e otimiza os serviços em até 117 municípios, ampliando o alcance da telemedicina e assegurando maior resolutividade, inclusive em presídios, onde 50% dos estabelecimentos já contam com estrutura para teleatendimento.
Eleuses, que possui uma longa carreira tanto na área médica quanto na política – tendo sido vice-prefeito, deputado federal e presidente de importantes associações médicas – ressalta a importância de uma gestão de saúde que se concentra na política de saúde, sem que haja influências partidárias. Ele destaca também a necessidade de uma maior atenção do Ministério da Saúde para o estado de São Paulo, considerando os desafios financeiros e a defasagem no repasse de recursos para procedimentos de média e alta complexidade.