O Canadá escolheu pela estabilidade e pela “resistência ao Trumpismo”, ao renovar o mandato do Partido Liberal liderado pelo primeiro-ministro Mark Carney nas eleições nacionais. Aos 60 anos, Carney é um dos nomes mais respeitados do cenário político e econômico global, tendo comandado tanto o Banco Central do Canadá quanto o Banco da Inglaterra — feito inédito para um estrangeiro.

Sua experiência à frente destas instituições durante períodos críticos, como o Brexit e a pandemia de Covid-19, foi um dos trunfos destacados ao longo da campanha.

Justin Trudeau, Tarifas Americanas e a Arrancada Liberal

A ascensão de Carney como líder liberal ocorreu após a renúncia de Justin Trudeau, que ocupou o cargo de primeiro-ministro por quase uma década, mas atravessava forte desgaste. Um dos momentos decisivos para o Partido Liberal, porém, foi protagonizado pelo próprio Trudeau: em seu discurso de despedida, criticou duramente a política de tarifas do então presidente americano, Donald Trump, defendendo o orgulho nacional e o papel estratégico do Canadá no cenário internacional.

A fala marcada pela contundência e clareza impulsionou os índices de intenção de voto dos liberais de pouco mais de 20% para patamares superiores a 40%, ampliando a vantagem sobre o Partido Conservador de Poilievre, que vinha em ascensão nas pesquisas.

Campanha com Tom Nacionalista e Riscos no Final

Inspirado pelo discurso de Trudeau, Carney baseou boa parte de sua campanha na resistência frente às tarifas de Trump, ressaltando a parceria histórica entre Canadá e Estados Unidos, mas sem submissão. Entretanto, a solidez dessa imagem foi abalada às vésperas da eleição, quando veio à tona que, numa ligação com Trump no fim de março, Carney teria omitido o desejo do ex-presidente americano de transformar o Canadá em um estado dos EUA, informação exposta por reportagem da Radio-Canada.

O episódio foi intensamente explorado por Pierre Poilievre na reta final da disputa. “Se Mark Carney mentiu sobre Trump, pode estar mentindo sobre inflação, impostos e crise habitacional. Não se pode confiar!”, declarou o líder conservador em evento de campanha.

Apesar da crítica pesada, o Partido Liberal venceu novamente, reafirmando sua força política e o desejo da maioria dos canadenses por continuidade em um momento de desafios globais e internos.

Novos Desafios para Carney: Alianças e Governabilidade

Com a vitória, Carney terá agora o desafio de formar alianças para garantir estabilidade parlamentar. Já declarou publicamente que não buscará acordo com o Bloc Québécois (BC), partido separatista de Québec, tradicional defensor de um referendo pela independência da província. Outra alternativa seria retomar diálogo com o Novo Partido Democrático, de Jagmeet Singh, legenda historicamente alinhada aos liberais, mas que perdeu terreno após a crise interna do partido e hoje figura com cerca de 10% das intenções de voto.

A reeleição de Mark Carney marca não só a permanência de uma linha progressista no governo canadense, mas também fortalece o Canadá como ator relevante no cenário global, especialmente em temas como política monetária, relações internacionais e enfrentamento das tensões comerciais com os Estados Unidos.
Mark Carney confirma liderança do Partido Liberal nas eleições do Canadá e seguirá como primeiro-ministro, após vitória sobre Pierre Poilievre. A campanha foi marcada por temas nacionais e resistência às pressões dos EUA, consolidando a busca por estabilidade e alianças no cenário político canadense.