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Caiado cobra reação do governo federal contra tarifaço dos Estados Unidos

Caiado cobra reação do governo federal contra tarifaço dos Estados Unidos

Enquanto Goiás sai na frente com anúncio de apoio financeiro ao empresariado, o governo federal ainda não formalizou medidas para mitigar os impactos do tarifaço

A dificuldade do governo federal em negociar uma saída diante da crise comercial entre Brasil e Estados Unidos foi alvo de críticas do governador Ronaldo Caiado durante entrevista ao vivo à rede CNN nesta quinta-feira (24). Segundo Caiado, a União tem ignorado as consequências para os estados e municípios da tarifa de 50% imposta pelos EUA aos produtos brasileiros com início previsto para agosto.

Cobrando resultados das negociações diplomáticas, o governador afirmou que o presidente Lula deve “ter a noção da liturgia do cargo e sentar com o presidente Donald Trump para conversar”. “Tem que dizer: ‘olha, nós somos parceiros, nós queremos desenvolver a economia do meu país’. Este é o nível de discussão que se espera de um presidente da República”, acrescentou.

Caiado ressaltou que países como Japão, Indonésia e o bloco da União Europeia já conseguiram renegociar suas condições comerciais, enquanto o Brasil segue inerte, a apenas oito dias de a taxa entrar em vigor, em 1º de agosto. Caiado deixou claro que é “100% contrário ao tarifaço” e revelou que a crise o levou a antecipar sua volta ao Brasil, interrompendo uma missão oficial no Japão.

Desde a última quarta-feira (23/7), o Governo de Goiás tem se articulado com o setor produtivo em busca de alternativas. Em uma série de reuniões, já foram ouvidas as demandas de representantes dos segmentos sucroenergético, de saúde e agroindustrial. O Estado também fez uma solicitação ao atual presidente do Fórum Nacional de Governadores, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, para a realização de uma reunião do colegiado.

Goiás foi o primeiro estado brasileiro a anunciar medidas emergenciais para mitigar os impactos da crise comercial entre Brasil e Estados Unidos. O Fundo de Equalização do Empreendedor (Fundeq) oferece subsídios para o pagamento de encargos em operações de crédito. Já o Fundo Creditório possibilitará a abertura de uma nova linha de crédito, a partir de créditos de ICMS, com expectativa de disponibilizar R$ 628 milhões em recursos.

O governador goiano alertou que uma eventual retaliação brasileira, defendida por setores do governo federal, pode agravar ainda mais o cenário. “Se nós aplicarmos a reciprocidade, ainda vai piorar mais a vida dos brasileiros. O presidente está blefando”, criticou. Caiado enfatizou os riscos humanitários de incluir o setor de saúde nas sanções. “Solicitei que a saúde fosse excluída, até por uma questão humanitária”, disse, apontando que muitos insumos e equipamentos hospitalares vêm dos Estados Unidos.

Em Goiás, devem ser especialmente afetadas as produções de carne, couro, minérios, citricultura, açúcar orgânico e tilápia. “As consequências vão repercutir principalmente na cadeia de carnes. A arroba, que chegou a R$ 320, caiu para R$ 270. Isso afeta confinadores, produtores de ração e toda a cadeia de comercialização”, disse Caiado. E completou: “Tudo isso atinge a vida das pessoas. São mais de 380 milhões de dólares da economia goiana ameaçados”, afirmou.

Reunião
Pouco antes da entrevista, na manhã de quarta-feira (24/7), o governador comandou a quinta reunião com o setor produtivo, desta vez com representantes da cadeia sucroenergética. Na ocasião, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), André Rocha, destacou a liderança goiana na produção de açúcar orgânico. “Goiás é o maior produtor nacional de açúcar orgânico. Produzimos esse açúcar especial que começou lá na Jales Machado, em Goianésia, e também é feito em Goiatuba, pela Goiasa”.

Representando a companhia Jales Machado, o empresário Henrique Pena explicou que, somando a nova tarifa de 50% aos já existentes US$ 357 por tonelada, o açúcar orgânico brasileiro passará a pagar 98% em tributos para entrar nos EUA, enquanto concorrentes como a Colômbia devem pagar 58% — ou até menos, em casos de acordos bilaterais. “Devemos perder mais ou menos aí 40% da demanda que a gente exporta anualmente para os Estados Unidos”, concluiu.

Pedro Moura
ADMINISTRATOR
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