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Facebook Sem Freios” nos EUA

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Liberdade de Expressão ou Concessão Política? A Meta e a Chegada de Trump em 2025

Em um movimento que já está gerando discussões acaloradas, a Meta anunciou que irá descontinuar o uso de checagem independente de fatos em suas plataformas Facebook e Instagram, substituindo-a por um sistema de “notas da comunidade”. Essa mudança segue um modelo semelhante ao adotado pelo X, anteriormente conhecido como Twitter, onde os próprios usuários comentam e avaliam a precisão do conteúdo das postagens.

Durante a recente divulgação via blog da empresa, Mark Zuckerberg, presidente-executivo da Meta, justificou a decisão citando uma preferência por “retornar às raízes de liberdade de expressão”, afirmando que os moderadores profissionais se mostravam “politicamente tendenciosos”. Joel Kaplan, que recentemente assumiu a liderança de políticas na Meta, reforçou essa ideia, alegando que, apesar das boas intenções, a dependência de moderadores independentes muitas vezes resultava em censura.

Reações e Consequências

A decisão não passou sem críticas. Ativistas, como Ava Lee do Global Witness, um grupo que monitora a responsabilidade corporativa, viram a decisão como uma tentativa de agradar a administração Trump, que tomará posse em breve. Essa perspectiva é reforçada por preocupações sobre as implicações de facilitar a disseminação de desinformação em um momento em que o ambiente político global é altamente sensível.

No Brasil, o Ministério Público Federal (MPF) expressou preocupação com a possibilidade de adoção dessa nova política no país. Desde 2021, um inquérito civil investiga a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia sobre os conteúdos postados por usuários. Sendo a Meta um dos alvos desse inquérito, o MPF busca esclarecer se as mudanças anunciadas por Zuckerberg serão implementadas no Brasil, especialmente considerando as normas locais de regulação de conteúdo.

Desafios Legais e Regulatórios

A questão é ainda mais complexa devido às normas já estabelecidas em vários países e às recomendações do MPF para a regulação de conteúdo. As mudanças propostas pela Meta podem colidir com essas normas, levando a possíveis conflitos legais. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) está atualmente revisando o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que atualmente isenta plataformas da responsabilidade sobre o conteúdo de terceiros. A postura da Meta pode influenciar essa deliberação, levando a um aumento da responsabilidade das plataformas.

Implicações Econômicas e Políticas

Internamente, há uma percepção de que a Meta está priorizando interesses econômicos nos Estados Unidos, possivelmente buscando uma aliança com o governo de Donald Trump para enfrentar pressões regulatórias globais. Apesar de o Congresso brasileiro ter evitado votar projetos que aumentem a responsabilidade das plataformas, o STF pode adotar uma postura mais rígida, especialmente se a Meta reduzir seu controle sobre o conteúdo no Brasil.

A mudança de política pela Meta destaca a tensão entre liberdade de expressão e a necessidade de moderar conteúdos potencialmente prejudiciais. À medida que plataformas globais navegam por este terreno complicado, as decisões tomadas não apenas impactam a operação da empresa, mas também moldam o panorama de governança digital em todo o mundo.

A Pressão de Donald Trump

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Mudança de Administração: Com Donald Trump assumindo novamente a presidência em 20 de janeiro, há uma percepção de que as big techs, incluindo a Meta, podem estar ajustando suas políticas para alinhar-se mais favoravelmente com a nova administração. Trump já foi crítico em relação à moderação de conteúdo em plataformas, acusando-as de censurar vozes conservadoras.

Regulação das Big Techs: Durante seu mandato anterior, Trump e seus aliados frequentemente pressionaram por uma revisão das políticas de moderação de conteúdo das plataformas digitais. A nova abordagem da Meta pode ser vista como uma tentativa de evitar futuras regulamentações ou sanções, tentando equilibrar a liberdade de expressão com a responsabilidade de conteúdo.

Pressões de Lobbying: A administração Trump pode representar um ambiente regulatório mais desafiador para as grandes empresas de tecnologia. Alterações nas políticas de moderação podem ser uma estratégia para suavizar a relação com o governo, reduzindo o risco de intervenções regulatórias pesadas.

Resposta a Críticas de Censura: Trump e muitos de seus apoiadores frequentemente acusaram plataformas de mídias sociais de censurarem conteúdo conservador. A decisão de permitir que notas da comunidade guiem a verificação de fatos pode ser interpretada como uma tentativa de combater essa narrativa, promovendo uma imagem de maior abertura e neutralidade.

A decisão da Meta de substituir a checagem independente de fatos por um sistema de “notas da comunidade” não só coloca desafios para a empresa, mas também para os próprios usuários das plataformas. Ao delegar a verificação de informações para a comunidade, a Meta aposta em uma auto-regulação que pode não ser eficaz em lidar com a desinformação e o discurso de ódio, temas altamente críticos no cenário digital atual.

Expectativas e Preocupações no Brasil

No Brasil, as implicações desta política são complexas. O MPF está em alerta, especialmente após a sugestão de que as mudanças começarão nos Estados Unidos, mas que eventualmente podem se expandir globalmente. Esta abordagem da Meta pode ser vista como uma tentativa de evitar confrontos legais e regulatórios em mercados internacionais, mas também corre o risco de contrariar diretrizes já estabelecidas em países com legislação mais rígida sobre o controle de conteúdo.

O STF, por sua vez, continua a análise do artigo 19 do Marco Civil da Internet, uma discussão que ganhou renovada relevância à luz das novas políticas da Meta. A decisão final da corte sobre a responsabilidade das plataformas pode impactar significativamente a forma como a Meta e outras big techs operam no Brasil, potencialmente aumentando suas obrigações legais em relação ao conteúdo gerado por usuários.

Implicações Globais e Iniciativas de Conformidade

Globalmente, a Meta enfrenta um terreno regulatório dinâmico e desafiador. Na União Europeia, por exemplo, o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR) impõe regras rigorosas que poderiam entrar em conflito com a abordagem de moderação comunitária da Meta. A empresa precisa encontrar um equilíbrio entre inovação na gestão de conteúdo e conformidade com leis regionais, para evitar sanções e manter a confiança dos usuários.

Além disso, a decisão da Meta pode influenciar outras plataformas digitais a reconsiderarem suas próprias práticas de moderação. Se a atitude da Meta provar-se eficaz, outras empresas podem seguir o exemplo, levando a uma mudança mais ampla na moderação de conteúdo digital. Entretanto, se falhar, isso pode resultar em chamadas mais urgentes para uma regulação mais rigorosa e uma revisão das práticas de moderação em toda a indústria.

Enfim…

O desafio para a Meta será demonstrar que “notas da comunidade” podem efetivamente complementar ou mesmo substituir sistemas profissionais de checagem de fatos sem comprometer a integridade da informação. Em um ambiente digital onde a confiança do usuário é fundamental, a Meta precisará monitorar de perto o impacto de suas novas políticas e estar pronta para ajustar sua abordagem conforme necessário.

Conforme a empresa navega por esse novo modelo, a abertura ao feedback dos usuários e a transparência nas decisões serão cruciais. O sucesso dessa política não só afetará a credibilidade da Meta, mas também pode definir o futuro da mediação de conteúdo online, influenciando como as plataformas equilibram liberdade de expressão e responsabilidade em um mundo conectado. Ao mesmo tempo, a capacidade da Meta de engajar-se com reguladores e adaptar-se a diferentes contextos jurídicos será essencial para sua sustentabilidade e crescimento no cenário global.

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