Surpreendentemente, os aposentados e pensionistas argentinos parecem estar carregando um fardo desproporcional
O governo do presidente argentino Javier Milei tem se vangloriado de seus recentes sucessos econômicos, principalmente o alcance do superávit fiscal. No entanto, um estudo recente do Instituto Argentino de Análise Fiscal (Iaraf) lança luz sobre quem realmente está pagando a conta desse ajuste. Surpreendentemente, os aposentados e pensionistas argentinos parecem estar carregando um fardo desproporcional.
O Peso do Ajuste nos Ombros dos Idosos
Segundo o estudo do Iaraf, os aposentados e pensionistas contribuíram com impressionantes 29% do ajuste fiscal realizado pelo governo Milei no primeiro semestre de 2024. Esta contribuição involuntária se deu principalmente através da falta de correção adequada dos benefícios previdenciários frente à alta inflação.
Impacto nos Números
- Superávit fiscal: 0,4% do PIB nos primeiros seis meses de 2024
- Corte nos gastos primários: 32%
- Aposentadorias e pensões: 36,5% do gasto primário total
- Número de beneficiários: Cerca de 6,8 milhões
“A maior parte do ajuste é paga pelos aposentados, mas toda a sociedade está pagando por ele, com menos bens de consumo e investimentos, devido à recessão que provocou a desvalorização e a queda da renda” – Guillermo Oglietti, subdiretor do Celag
A Realidade por Trás dos Números
INDICADOR | VARIAÇÃO |
---|---|
Poder de compra dos aposentados | -29,2% (primeiros 7 meses de 2024 vs. 2023) |
Variação nominal das aposentadorias (sem bônus) | +113,3% (dez/2023 a ago/2024) |
Inflação (IPC) | +94,8% (mesmo período) |
O Debate sobre os Bônus
O governo Milei argumenta que as aposentadorias cresceram acima da inflação. No entanto, críticos apontam que essa afirmação ignora um fator crucial:
- A não recomposição dos bônus (bonificações extras)
- Impacto maior sobre os aposentados de menor renda
- Perda acumulada estimada de $ 704 mil pesos na aposentadoria mínima em 8 meses
Vozes da Rua
O descontentamento entre os aposentados é palpável. Adrián Luque, 78 anos, expressa o sentimento de muitos:
“Troquei uma refeição por mate cozido e preciso de ajuda para comprar remédios, enquanto o presidente tenta nos convencer de que a vida melhorou. No fim, a ‘casta’ que Javier Milei dizia combater éramos nós?”
O Outro Lado da Moeda
O governo Milei celebra conquistas econômicas significativas:
- Superávit fiscal por seis meses consecutivos
- Desaceleração da inflação (4% por quatro meses, 3,5% em setembro)
- Apresentação de um orçamento austero para 2025
Apoiadores do governo, como o economista José Luis Espert, argumentam que a situação dos aposentados está “cada vez melhor” e que o país está “saindo do subsolo”.
O Custo Social do Ajuste
Apesar do apoio do mercado financeiro, o ajuste fiscal de Milei tem tido consequências sociais significativas:
- Aumento do desemprego
- Elevação dos índices de pobreza
- Redução do poder aquisitivo da população
Conclusão: Um Debate em Aberto
O caso dos aposentados argentinos levanta questões cruciais sobre a distribuição do ônus do ajuste fiscal. Enquanto o governo Milei aponta para indicadores macroeconômicos positivos, a realidade vivida por milhões de idosos parece contar uma história diferente. O debate sobre a justiça e eficácia dessa abordagem econômica promete continuar acalorado nos próximos meses, à medida que a Argentina busca equilibrar recuperação econômica e bem-estar social.
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