Governador acusa institutos Ibram e Iphan de abandono e burocracia, e propõe que gestão da Igreja da Boa Morte seja transferida ao Estado
Durante visita à cidade de Goiás, o governador Ronaldo Caiado fez duras críticas, nesta quarta-feira (30/7), à gestão do patrimônio histórico federal, denunciando o abandono da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte — um dos marcos mais importantes do barroco goiano e sede do Museu de Arte Sacra da Boa Morte.
LEIA TAMBÉM
Ex-diarista entra em ranking de maiores influences goianos ao lado de Alok; video
Zé Felipe e Ana Castela estão juntos? Entenda
O local, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), apresenta visíveis sinais de deterioração. “Olha lá. Veja bem aquela parte toda das janelas caindo, tudo apodrecendo, sem o menor cuidado”, afirmou o governador em um vídeo divulgado nas redes sociais.
Caiado foi além: criticou o papel do Iphan na fiscalização de bens tombados no estado. “É um descaso. O Iphan é um órgão que só sabe atrapalhar e não ajuda em nada. É impressionante. Eles atrapalham aqui, o Estado não pode fazer nada. A praça toda está recuperada, apenas a igreja está completamente abandonada”, disparou.
O Museu de Arte Sacra da Boa Morte, instalado no edifício, abriga mais de 900 peças de arte sacra — muitas delas de José Joaquim da Veiga Valle, conhecido como o “Aleijadinho goiano”. O acervo pertence à Diocese de Goiás, mas, desde 2009, é administrado pelo Ibram, após transferência de gestão feita pelo governo federal.
Em maio deste ano, a Secretaria da Cultura (Secult) enviou ofício aos dois institutos para solicitar informações sobre a previsão de intervenção na igreja. Além disso, ofereceu apoio técnico para a elaboração de uma ação conjunta visando à execução das obras necessárias.
Em resposta, o Ibram informou que a realização dos reparos, além de depender da disponibilidade orçamentária, está prevista apenas para o segundo semestre de 2025, com início das obras estimado para 2026, uma vez que qualquer contratação só poderá ser feita após a liberação de recursos pelo Ministério da Cultura.
Já o Iphan declarou que não possui dotação orçamentária própria para execução de obras nem gerência sobre eventuais recursos federais destinados a esse fim, sendo essa atribuição exclusiva do Ibram, gestor do imóvel.
Por sua vez, o Conselho Estadual de Cultura de Goiás, por meio da Câmara Técnica de Ciências Humanas, Memória e Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, manifestou que a fiscalização de bens tombados federalmente é, por definição, indeclinável e atribuída ao Iphan, independentemente da titularidade do imóvel e que o tombamento federal não impõe apenas o poder de fiscalização, mas de preservação ativa, com planejamento e ações coordenadas.
No caso da Igreja da Boa Morte, o cenário evidencia uma omissão sistêmica de coordenação entre dois órgãos federais — o próprio Iphan e o Ibram, gestor do espaço por cessão de uso —, o que compromete diretamente a efetividade da proteção patrimonial. A ausência de diálogo técnico entre os entes federais fragiliza a governança sobre o bem e impede respostas tempestivas frente à sua deterioração, aumentando consideravelmente o risco de colapso.
A Câmara de Patrimônio do Conselho Estadual de Cultura vem expressando preocupação quanto à falta de atuação objetiva do Iphan em relação a diversos bens tombados pela União em Goiás. Paralelamente, o Governo do Estado tem investido recursos e esforços na recuperação de imóveis históricos — inclusive sob proteção federal — como demonstração de seu compromisso com a memória e o patrimônio cultural goiano.
Para Caiado, falta vontade política para discutir a transferência da gestão da igreja ao Estado, apesar dos anos de negligência. “O Estado resolve. O que vocês querem? Sucatear cada vez mais os prédios públicos do nosso estado, principalmente da cidade que é patrimônio da humanidade?”, questionou.