O Canal da Mancha, estreito que separa a França do Reino Unido, tem sido palco de uma crise humanitária crescente. Em 2024, o número de mortes de migrantes que tentam cruzar suas águas atingiu um recorde alarmante, superando as estatísticas de anos anteriores.

A Realidade dos Migrantes em Calais

Calais, cidade portuária no norte da França, tornou-se um ponto focal para milhares de migrantes que sonham em alcançar o Reino Unido. Entre eles está Shahab, um jovem iraniano de 26 anos, que junto com sua família, enfrenta condições precárias enquanto aguarda a oportunidade de fazer a travessia.

“Nós tentamos cruzar ontem, nossas roupas estão encharcadas”, relata Shahab, cuja família carrega seus poucos pertences em sacos de lixo, buscando abrigo nas ruas frias de Calais.

Estatísticas Alarmantes

Em 2024, já foram registradas pelo menos 75 mortes de migrantes na travessia, incluindo 13 crianças, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Este número supera o recorde anterior de 50 vítimas em 2019.

Políticas Migratórias e Seus Impactos

O endurecimento das políticas migratórias e a deterioração das condições de vida nas cidades francesas são apontados como fatores que contribuem para o aumento da letalidade. Relatos de operações policiais agressivas, incluindo a destruição de barcos infláveis e táticas para impedir a travessia, têm sido documentados.

Condições de Vida em Calais

A situação dos migrantes em Calais é agravada pela política de “não fixação”:

• Desmantelamento regular de acampamentos
• Destruição de barracas
• Apreensão de pertences pessoais

Estas ações, segundo ativistas, apenas intensificam o desespero dos migrantes para tentar a travessia o mais rápido possível.

O Ecossistema Migratório de Calais

Calais transformou-se em um complexo ecossistema envolvendo migrantes, associações governamentais, ONGs e organismos internacionais. Sua proximidade com a Inglaterra (cerca de 50 km) a torna um ponto estratégico para aqueles que buscam refúgio no Reino Unido.

Evolução das Travessias

Perspectivas e Desafios

Apesar das políticas restritivas, especialistas apontam que a repressão na fronteira não inibe os fluxos migratórios. Pelo contrário, pode aumentar os riscos e o custo das travessias ilegais.

“Os últimos dez anos deram um impulso aos processos migratórios. Por diversas razões, guerras, mas também por uma precariedade global do trabalho, em todos os níveis, em todos os grupos sociais”, explica Rosana Baeninger, professora da Unicamp.

A crise no Canal da Mancha reflete um desafio global: equilibrar as necessidades econômicas e demográficas da Europa com as políticas de imigração e a proteção dos direitos humanos dos migrantes. Enquanto isso, pessoas como Shahab e as irmãs Azizi continuam a arriscar suas vidas em busca de um futuro melhor.