Decisão Gera Debate sobre Liberdade de Informação e Levanta Temores de Censura e Retaliação
A Casa Branca anunciou que passará a selecionar quais jornalistas poderão cobrir as atividades diárias do presidente Donald Trump, e quem deixará de fora. Esta decisão representa uma quebra nas práticas tradicionais dos EUA, onde, por décadas, o acesso à presidência foi controlado por um rodízio mediado pela Associação de Correspondentes da Casa Branca (WHCA).
Historicamente, a WHCA tinha a responsabilidade de organizar diariamente um grupo de 13 jornalistas que acompanhavam o presidente em eventos significativos, como aqueles no Salão Oval ou durante viagens no Air Force One. Este sistema sempre assegurou que veículos como Reuters, Associated Press e Bloomberg pudessem relatar, de forma independente, as declarações presidenciais. Entretanto, o governo Trump agora detém o controle sobre quais veículos terão o privilégio de acesso direto.
E a Liberdade de Imprensa?
A medida foi muito criticada por organizações de mídia, que acusam a Casa Branca de tentar suprimir vozes críticas e promover uma cobertura alinhada ao governo, algo que não é novidade e já faz parte do discurso de Trump. Especialmente notável foi o caso da Agência de Notícias Associated Press, que teve seu acesso ao Salão Oval restringido depois de recusar-se a adotar a nomenclatura imposta por Trump “Golfo da América” em vez de “Golfo do México”. Essa decisão levou a AP a processar o governo, reivindicando que o movimento atenta contra a liberdade de expressão e é inconstitucional. Até a correspondente da Rede Globo Raquel Krähenbühl já sofreu restrições na casa Branca e teve seu cracha de acesso revogado pela equipe de Trump, ainda na presidência anterior.

Raquel Krähenbühl é correspondente da Rede Globo em Washington Foto: Redes Sociais
Implicações e Reações
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, justificou a mudança como uma tentativa de abrir espaço para “novos veículos”, incluindo blogs, podcasts e serviços de streaming, argumentando que isso representa “devolver o poder ao povo americano”. Ela também destacou que “empresas tradicionais” continuarão a ter acesso, mas frisou a importância de incluir novas vozes, o que gerou receios de que essas seleções favoreçam veículos mais simpáticos às políticas de Trump.
A WHCA, em sua resposta, classificou a medida como um “ataque à independência da imprensa livre”, afirmando que, em uma democracia, líderes não devem ter o poder de escolher quem os noticia. A associação argumentou que seu sistema de rodízio assegura um equilíbrio na cobertura, incluindo novas vozes enquanto mantém altos padrões de qualidade jornalística.
A decisão ocorre em um momento de tensão contínua entre a Casa Branca e a mídia tradicional dos EUA, muitas vezes atacada por Trump. A mudança destoa das normas aceitas internacionalmente e levanta questões sobre a imparcialidade e a transparência do governo. Analistas temem que a possibilidade de seleção ideológica de jornalistas ameace a diversificação e independência da imprensa, um pilar crucial em qualquer democracia. A decisão de Trump marca a volta de uma difícil relação da mídia com o governo.