Governo Lula vê alta de juros e perda de mercado no comércio global como “Risco Trump”
Em meio a um cenário econômico mundial em transformação, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em alerta com a possibilidade de juros elevados duradouros e perda de participação no comércio global, impulsionados pelas políticas recém-anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esta preocupação se reflete nos atuais esforços da equipe técnica do governo, que se debruça sobre a criação de um informe de riscos, destinado a orientar as decisões das autoridades brasileiras e os rumos das negociações comerciais com os EUA.
Um Documento Vivo em Construção
A meta para esta semana é a conclusão deste dossiê que, além de minucioso e baseado em dados, permanecerá em constante atualização. Entende-se que ele compõe um estudo técnico mais abrangente das políticas implementadas durante o mandato inicial de Trump (2017-2021), assim como aquelas das gestões subsequentes, culminando nas propostas republicanas para o novo mandato.
No centro das preocupações está a perspectiva de inflação global, associada às políticas econômicas dos EUA, que podem resultar em manutenção elevada das taxas de juros a nível mundial. A economia brasileira poderá ter que espelhar essas medidas para manter um diferencial atrativo para investimentos externos, com o Banco Central do Brasil potencialmente seguindo o exemplo do Fed (Federal Reserve).
Impactos no Comércio Global e Suas Ramificações
A política monetária agressiva de Trump tende a fortalecer o dólar, afetando a competitividade do câmbio em países emergentes, como o Brasil. Contudo, apesar dos desafios, o diferencial de juros local destaca o Brasil diante de seus pares globais. Atualmente, com a taxa Selic fixada em 13,25% ao ano, o país lidera no ranking de juros reais.
A competitividade do Brasil no cenário global é ameaçada por acordos bilaterais entre EUA e potências como a China. Tais negociações têm potencial de limitar o espaço de exportações brasileiras, especialmente no agronegócio.
Setores Brasileiros sob Observação Atenta
Etanol, aço e alumínio figuram entre os setores monitorados, dada sua relevância no cenário de exportações brasileiras. Em particular, as exportações de etanol para os EUA foram significativas em 2024, somando cerca de US$ 181,8 milhões. O governo federal observa cuidadosamente o avanço tarifário recíproco que pode impactar de forma assimétrica diversas indústrias brasileiras.
Oportunidades Estratégicas e Comerciais
Apesar de um déficit na balança comercial, o Brasil vê oportunidades de negociação com os EUA, sustentado por um superávit histórico de US$ 263,1 bilhões acumulado pelos americanos no comércio de bens e serviços, entre 2014 e 2023, como aponta a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil).
Considerações Ambientais e Oportunidades Globais
Na esfera ambiental, as manobras de Trump marcam uma retirada clara dos EUA na liderança de iniciativas de descarbonização, cedendo terreno à China. Já o Brasil ambiciona assumir o protagonismo em tecnologias sustentáveis, beneficiando-se de investimentos estrangeiros em renováveis, especialmente em projetos de energia eólica. Com os EUA recuando na agenda verde, a China assume papel de liderança, reforçando sua posição no tabuleiro global.
O informe focará, primordialmente, em aspectos macroeconômicos, sem abranger temas não diretamente relacionados, como a política ambiental norte-americana sob Trump, embora se reconheça a inevitabilidade da transição verde no cenário mundial. Esta complexa rede de causas e efeitos, prenuncia uma série de ajustamentos estratégicos para o Brasil, cuja posição exige vigilância e capacidade de adaptação frente aos desafios do comércio internacional.