José Dirceu enfatizou nesta segunda-feira (22) a urgência de o Brasil estabelecer uma “aliança estratégica” com o país asiático
PEQUIM, CHINA – Durante sua estadia na China, o ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu enfatizou nesta segunda-feira (22) a urgência de o Brasil estabelecer uma “aliança estratégica” com o país asiático. Ele apoiou a entrada na Iniciativa Cinturão e Rota, um projeto chinês voltado para a infraestrutura global, além de defender a negociação de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China.
“O Brasil precisa de capitais e tecnologia“, declarou Dirceu em Pequim. “Quem pode fornecer isso hoje? A China. Eles oferecem financiamento com juros de 2,5% ao ano.” O ex-ministro relatou ter visitado instituições financeiras chinesas: “Embora não fosse o objetivo principal da viagem, aproveitei para conhecer os fundos e bancos que interessam ao Brasil. Não há crédito disponível no Brasil.”
Dirceu mencionou que suas reuniões políticas, a razão principal de sua visita, começariam na terça-feira, com membros do Partido Comunista da China. Na primeira semana, em Xangai e depois em Pequim, ele focou principalmente no mercado financeiro, visitando instituições como o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC).
Sobre a Iniciativa Cinturão e Rota, Dirceu argumentou que, “com ou sem o Brasil”, a iniciativa já está em andamento na América do Sul. “Os chineses já estão construindo o porto em Chancay, no Peru,” mencionou, referindo-se ao projeto da empresa chinesa Cosco. A previsão de abertura é para novembro, durante a reunião da Apec, que contará com as presenças de Xi Jinping e do presidente brasileiro Lula.
Em um evento público em São José dos Campos (SP), o presidente Lula também mencionou a iniciativa chinesa: “O Brasil não faz parte da Apec, mas, como a China quer discutir a Rota da Seda [outra denominação para a Iniciativa Cinturão e Rota], precisamos preparar uma proposta. O que o Brasil ganha ao participar disso?”
Dirceu, ex-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula, destacou que “o Brasil deve liderar” a aproximação regional com a China e a Ásia. “O futuro está aqui.”
Ele apontou que metade do consumo mundial será originado dos países do Brics, especialmente Índia e China. Suas próximas viagens incluirão a Índia e a Indonésia. “A Indonésia também está em ascensão, tanto que é frequentemente mencionada aqui,” disse ele, referindo-se a conversas com agentes financeiros.
A entrada da Indonésia no Brics foi prevista para o ano passado, mas não se concretizou, sendo incluídos diversos países do Oriente Médio, como os Emirados Árabes Unidos e o Irã.
“A transformação estratégica e nas relações internacionais do Golfo Pérsico é fenomenal,” comentou Dirceu. “Os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita possuem independência econômica significativa, com trilhões em fundos. É uma realidade como a da China. O mundo mudou, e precisamos nos adaptar. O que estamos fazendo diante dessas mudanças? Precisamos agir rapidamente.”
Para Dirceu, “o Brasil está numa encruzilhada; daqui a dez anos, não haverá volta.” Ele acredita que haverá uma redistribuição de poder global nesse período.
“Estamos subestimando as possíveis mudanças no mundo. O Brasil, sendo o país mais rico em recursos naturais, será muito cobiçado. Continuaremos focados nos Estados Unidos ou olharemos para o novo mundo emergente?”
O mesmo se aplica à União Europeia. “Não podemos mais esperar nada da Europa. Queríamos assinar um acordo comercial com o Mercosul, contra nossos próprios interesses, e a Europa não aceitou. Os governos europeus não conseguem assinar devido à pressão interna de seus agricultores.”
Este é o argumento de Dirceu para um acordo de livre comércio com Pequim. “Se estávamos dispostos a fazer um acordo com a Europa, por que não com a China? A Europa nos ofereceria infraestrutura? Não. Tecnologia? Também não. Eles queriam acesso a serviços, compras e setores industriais.”
Questionado se o Brasil estaria se distanciando de seu tradicional equilíbrio na política externa, Dirceu respondeu que “o país deve continuar se equilibrando, mas sem perder as oportunidades de acesso aos mercados do Brics e aos financiamentos disponíveis nos bancos.”
Em Xangai, Dirceu também se reuniu com a ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics. A reunião durou quatro horas, mas ele não detalhou o conteúdo das discussões. Quando perguntado se o NBD pode facilitar a aproximação estratégica com a China e a Ásia, ele respondeu que “esse é o papel do banco.”
Ele insistiu que não representa nem fala em nome do PT ou do governo atual. “Como disse um deputado do PT, eu e o [ex-presidente do partido José] Genoíno somos zumbis. É assim que nos veem.” Dirceu mencionou que não tem conversado pessoalmente com Lula, “mas mantenho contato com todos os ministros.”
Sobre uma possível candidatura a deputado federal, Dirceu afirmou que é cedo para decidir. Ele pretende “ajudar nas eleições e na renovação do PT no próximo ano, quando ocorrerá um congresso muito importante que mudará o partido.” Sem entrar em detalhes, ele afirmou que “o PT precisa mudar.”
Desde que deixou o governo, há duas décadas, Dirceu foi preso quatro vezes. Ele comentou sobre as ações: “Anulei uma ação da Receita. Um inquérito foi arquivado. Um processo foi arquivado. Um foi para a Justiça Eleitoral e prescreveu para mim. Vai continuar com os outros réus e será anulado. E há um último no STJ, que espero resolver em agosto.” Acrescentou, porém, que “nunca se sabe o que pode acontecer.”
Deixe um comentário
Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos obrigatórios são marcados com *