Uma vez concluído o ensino médio, não há mais como ajudar estudantes com baixa aprendizagem
A geração de estudantes que iniciou o ensino básico no Brasil em 2019 está projetada para atingir um índice de 30% de jovens com formação suficiente e no tempo adequado. Em 2019, apenas 2 em cada 10 jovens concluíram a educação básica com o aprendizado esperado e dentro do prazo correto. Essa projeção sugere que uma geração que começou o ensino fundamental naquele ano aumentaria apenas um aluno no grupo com boa formação.
Uma vez concluído o ensino médio, não há mais como ajudar estudantes com baixa aprendizagem, pois esses indicadores refletem o passado. Mas e se fosse possível prever e corrigir esses resultados antes?
É isso que o Índice de Inclusão Educacional (IIE) Legado busca responder. O IIE original, que foi de 19% em 2019, poderia aumentar para 30,7% se as mesmas condições fossem mantidas para uma geração iniciando os estudos naquele ano. O índice foi desenvolvido pelo Instituto Natura em parceria com a Metas Sociais, ambas focadas em educação.
O objetivo é acelerar melhorias para que, em cerca de 12 anos, pelo menos 31% dos alunos que começaram o fundamental em 2019 alcancem aprendizado suficiente e se formem no tempo correto ou com até um ano de atraso. O IIE calcula quantas crianças completam o ensino médio até os 18 anos, atingindo notas suficientes no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) em língua portuguesa e matemática. O nível mínimo de aprendizagem é definido como 300 pontos em cada uma das áreas.
“É uma corrida”, afirma Reynaldo Fernandes, professor de economia da USP e ex-presidente do Inep. Ele participou do desenvolvimento do índice e do IIE Legado e explica que é possível projetar, nas mesmas condições daquele ano, a porcentagem de alunos que concluirão a educação básica com resultados adequados. O ano de 2021 foi desconsiderado devido ao impacto da pandemia de Covid-19.
Segundo dados do Instituto Natura, o Brasil alcançou um IIE de 13,1% em 2017 e 19% em 2019. Novas gerações que iniciaram os estudos em 2017 poderiam atingir um IIE de 25% e as de 2019, 30,7%. A diferença de dez pontos percentuais pode reduzir 43 mil gestações na adolescência e aumentar em 127 mil o número de jovens ingressando no ensino superior aos 21 anos, além de 122 mil concluindo até os 25.
Se o sistema educacional permanecer inalterado, o IIE Legado pode ajudar a combater essa estagnação, diz David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura.
“No ritmo atual, levaríamos muito tempo para atingir uma educação de qualidade. O IIE Legado é uma forma de acelerar essas melhorias.”
Saad destaca que a educação é um processo cumulativo e que melhorias em cada etapa de ensino são essenciais. No entanto, as ações do governo tendem a focar no final dos ciclos educacionais. “Se sou governador, priorizo o ensino médio por estar mais próximo das questões da vida adulta”, observa Saad. Isso deixa a alfabetização em segundo plano, uma etapa crucial para o desenvolvimento futuro dos alunos.
Os dados de projeção de 2019 mostram que investir na alfabetização pode melhorar significativamente os resultados nos anos seguintes. Um exemplo é o desempenho dos estados de São Paulo e Ceará. São Paulo lidera com um índice de 27%, enquanto o Ceará está em sétimo lugar com 21,2%. No entanto, o IIE projetado para 2019 indica que ambos os estados alcançarão uma taxa de 39,8% após 12 anos de ensino básico. “O Ceará conseguiu alcançar São Paulo devido a melhorias significativas na alfabetização”, explica Saad.
O simulador usado para calcular o IIE Legado será atualizado com as novas notas do Saeb, que serão divulgadas em agosto, para projetar o IIE nas condições de 2023. O objetivo é sensibilizar governadores e gestores educacionais sobre as metas necessárias para melhorar a aprendizagem em cada estado.
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