Após Liberar Monark, Moraes Enfrenta Novo Desafio com Retorno do “YouTube da direita”
Estrondo em Inglês é Rumble, e também é o nome de uma plataforma de vídeos conhecida como o “YouTube da direita” que causou um verdadeiro estrondo e reacendeu a guerra pela narrativa política no Brasil, ao anunciar surpreendentemente seu retorno ao país. O movimento ocorre em meio a uma sequência estratégica de eventos: a liberação das redes sociais do influenciador Monark pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) na véspera e a reativação do canal Terça Livre, ligado ao empresário Allan dos Santos – foragido da Justiça desde 2021 sob acusações de calúnia e difamação no inquérito das fake news.
A decisão da Rumble inflama o debate sobre liberdade de expressão versus regulacão judicial e coloca sob holofotes as relações entre o CEO Chris Pavlovski e figuras como Donald Trump e Elon Musk, que defendem uma cruzada global contra o que chamam de “censura progressista”.
O “RUMBLE” EM NÚMEROS:
📈 80 milhões de usuários globais (70% nos EUA)
- 💰 Valor atual de Mercado: US$ 1,4 bilhão
- 🇧🇷 420 mil usuários no Brasil antes do bloqueio (2023)
- 🔥 Conteúdo mais lido no país: Análise política (68%), Críticas ao STF (22%)
Conexões Ocultas: Do Congresso dos EUA ao Planalto
A volta da plataforma não é isolada. Em outubro/2023, Pavlovski participou de audiência no Congresso americano organizada por republicanos, onde bolsonaristas relataram suposta “perseguição” do STF. Dois meses depois, ele postou foto ao lado de Trump e Musk com a legenda “Liberdade de expressão salva” – slogan que hoje ecoa em grupos conservadores brasileiros.
Para especialistas, o retorno sincronizado com a liberação de Monark sugere um timing político. “Há claramente um alinhamento entre atores nacionais e internacionais para testar os limites da Justiça brasileira”, analisa Carla Araújo, pesquisadora em direito digital da FGV.
A Reabertura do Terça Livre
O canal Terça Livre, reativado na plataforma, é um dos epicentros da crise. Seu fundador, Allan dos Santos, é réu no inquérito das fake news por supostamente coordenar ataques a ministros do STF. Em janeiro/2024, Moraes determinou a derrubada de suas contas em X (Twitter), Instagram e YouTube – mas o Rumble, à época já fora do ar, escapou.
Agora, com o retorno, surge um vácuo jurídico: “A plataforma está desobedecendo ordens judiciais ao reabrir um perfil bloqueado? A resposta depende se houve nova notificação”, explica o advogado constitucionalista Renato Buissa. O STF não se manifestou até o fechamento desta edição.
Eduardo Bolsonaro e a Estratégia Digital Bolsonarista
O deputado foi peça-chave na divulgação do retorno: às 18h32 de sábado, ele postou: “O @tercalivre volta com programas diários no @rumblevideo! Fujam da mídia manipuladora!”. A mensagem teve 280 mil visualizações em 3 horas e direcionou tráfego massivo à plataforma.
A articulação não é casual: em março de 2024, Eduardo integrou comitiva bolsonarista em Washington que pressionou parlamentares republicanos contra o “autoritarismo do STF”. Na ocasião, apresentou documentos alegando “censura” a apoiadores de Jair Bolsonaro.
O Jogo Geopolítico: Por Que o Rumble Interessa aos EUA?
Fundada em 2013, a Rumble se tornou trincheira digital da direita americana pós-2020, abrigando vozes banidas do YouTube por discurso de ódio ou negacionismo. Seu valuation chegou a US$ 2 bilhões em 2022, alimentado por investidores alinhados a Trump.
No Brasil, embora tenha apenas 420 mil usuários mensais (vs. 140 milhões do YouTube), sua base é hiperativa: 92% dos acessos são para conteúdo político, segundo a Similarweb. Para Pavlovski, realocar recursos aqui pode ser estratégico antes das eleições municipais: “É um teste para expandir na América Latina”, avalia Thomas Fischer, analista de mercado da Bloomberg.
Os Próximos Capítulos: STF Pode Barrar o Retorno?
A bola agora está com Moraes. Se o ministro revalidar as ordens de bloqueio contra perfis como o Terça Livre, poderá exigir que a Rumble os remova – ou aplicar multas diárias à plataforma, como fez com o Telegram em 2022.
Porém, como várias Big Techs, a Rumble não tem escritório no Brasil, o que complica ações judiciais. “Eles operam em zona cinzenta: estão sujeitos à lei brasileira?, questiona Araújo. Enquanto isso, militantes celebram nas redes.
Como a Rumble Opera no Brasil Sem Sede Local?
A estratégia da Rumble de não possuir representação legal no Brasil – diferentemente de Meta (Facebook/Instagram) e Google (YouTube) – cria um desafio para o STF. A Lei Brasileira de Internet, nosso Marco Civil, determina que plataformas com mais de 1 milhão de usuários no país devem ter escritório local, mas a empresa canadense-americana alega operar via “serviço global” sem base física aqui.
Especialistas apontam que, sem presença formal, medidas como multas (que podem chegar a R$ 1 milhão por hora de descumprimento) se tornam simbólicas. “Eles pagariam só se quisessem atuar aqui no futuro, o que não é o caso”, explica Carla Araújo.
O Lobby em Washington: Como os EUA Enxergam o Caso?
Republicanos da Câmara dos Representantes realizaram uma audiência sobre “censura no Brasil” em 18 de Junho convocando Pavlovski e Allan dos Santos (virtualmente). O objetivo era pressionar o Departamento de Estado a classificar o STF como “entidade opressora”, o que permitiria sanções contra magistrados.
A jogada teve duplo objetivo:
– Aquecer o eleitorado trumpista antes da convenção republicana de julho.
– Testar o governo Lula, que busca acordos comerciais com os EUA.
“É um ataque à soberania brasileira”, reagiu o chanceler Mauro Vieira, sem confirmar se o Itamaraty tomará qualquer medida.
📉 E Se a Rumble Cair Novamente? O Plano B da Direita Digital
Canais bolsonaristas já migram conteúdo para plataformas alternativas:**
- GETTR: Rede social com 800 mil usuários no Brasil.
- Truth Social: Criada por Trump; promete chegar ao Brasil em 2025.
- Odysee: Plataforma descentralizada baseada em blockchain.
O fato é que teremos que aprender a lidar com diversos discursos “Sem Freios” após a eleição de Donald Trump, até mesmo Mark Zuckerberg anunciou que irá descontinuar o uso de checagem independente de fatos em suas plataformas Facebook e Instagram. Qualquer um pode falar o que quiser nas redes a partir de agora, mas no Brasil a liberdade de expressão é uma garantia constitucional que possui uma condição: é vedado o anonimato e quem fala precisa aparecer e calúnia, injúria e difamação continuam sendo crimes contra a honra e podem acarretar sérios problemas legais.