Portal DATs

Honduras Recebe Encontro da CELAC em Meio ao Caos Econômico Global

Honduras Recebe Encontro da CELAC em Meio ao Caos Econômico Global

Apesar da Baixa Adesão Lula, Arce, Sheinbaum e Petro figuram entre os Confirmados

Honduras será palco do novo encontro da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em um contexto conturbado pela acirrada retórica do presidente dos Estados Unidos que derrubou Bolsas de Valores e causou crise no mercado internacional. Apesar das recentes “rachaduras” que marcaram encontros anteriores na América Latina, o evento promete reunir líderes regionais em meio aos desafios de uma nova realidade comercial global.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja a Tegucigalpa, capital hondurenha, na terça-feira (8), no mesmo dia em que os chanceleres dos países membros se reúnem para definir os detalhes da cúpula. Contudo, as expectativas são cautelosas, pois, historicamente, as reuniões da CELAC têm enfrentado dificuldades de adesão. Este ano, apenas 11 dos 33 países-membros confirmaram presença, mas a busca por novos parceiros comerciais pode incrementar esse número.

Entre os nomes que estarão representando suas nações estão os presidentes da Bolívia, Luis Arce, do México, com a presença da influente Claudia Sheinbaum, e do Brasil, enquanto o líder colombiano, Gustavo Petro, deverá assumir a presidência da organização durante o evento, substituindo a anfitriã, Xiomara Castro. Esses encontros, embora com representatividade reduzida, mantêm um simbolismo forte, principalmente em um momento em que a região encara uma fase interna marcada por relativa estabilidade, mas externamente sujeita a novas e inesperadas pressões.

Um dos principais pontos de tensão deste encontro é a postura assertiva adotada desde o início do novo governo americano. Desde o seu retorno à Casa Branca, Trump vem utilizando uma retórica agressiva e políticas expansionistas – que já se manifestaram em ameaças relacionadas ao canal do Panamá e tarifas comerciais diferenciadas para países como Venezuela, Nicarágua e México, este último poupado das recentes medidas tarifárias. Para o governo brasileiro, essa postura evidencia a necessidade urgente de articular uma resposta unificada e estratégica que permita não apenas a defesa dos interesses regionais, mas também a promoção de uma maior integração entre os países latino-americanos.

Além das tarifas comerciais, a migração tem se destacado como um tema central na agenda da reunião. Nos últimos meses, a região tem registrado um fluxo intenso de deportações, com centenas de migrantes retornando aos países de origem, o que intensifica as críticas e a pressão sobre as políticas de fronteiras adotadas por Washington. Esses episódios já despertaram tensões entre Washington e Caracas – especialmente com a incerteza sobre a participação do presidente Nicolás Maduro na cúpula, situação que pode agravar rivalidades históricas e antecipar desentendimentos entre antigos aliados.

Especialistas apontam que, apesar das divergências internas e de uma representatividade reduzida, o encontro pode ser uma oportunidade estratégica para relembrar o objetivo original da Celac: a integração e fortalecimento da região. Regiane Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), comenta que, apesar das fragilidades institucionais da organização, o governo brasileiro tem a chance de se posicionar como um articulador regional, estimulando propostas que possam, por exemplo, aumentar o comércio interno e mitigar os impactos do recente “tarifaço” imposto pelos EUA.

A agenda da cúpula ainda deve incluir discussões sobre a influência dos Estados Unidos, cujas políticas externas – muitas vezes pautadas por uma visão rígida e alinhadas com interesses locais, como os de estados norte-americanos – se tornam cada vez mais evidentes na América Latina. A disputa com a China e o radical enfoque nas questões migratórias configuram, segundo especialistas, os dois grandes desafios que a região enfrentará nos próximos meses.

Enquanto líderes debatem a melhor forma de promover a integração e enfrentar os ataques de uma política externa americana que parece ditar regras a partir de uma base ideológica rígida, a atenção volta para o papel estratégico que o Brasil e seus parceiros poderão exercer para equilibrar interesses e promover uma união que ultrapasse as divergências partidárias e regionais.

Em um cenário de tensões e desafios, a cúpula da Celac em Honduras se apresenta como um campo de negociação e, possivelmente, de renovação de alianças entre os países da América Latina – que, mais do que nunca, precisarão reafirmar seu compromisso com a integração e a cooperação mútua para enfrentar os tempos difíceis que se aproximam.

Mais Notícias