Em Atlanta, Geórgia, um estado crucialmente indeciso, a discussão política entre a comunidade afro-americana revela nuances importantes sobre as preferências eleitorais e as percepções dos candidatos. Horace Robinson, 47 anos, proprietário da barbearia Silver Star, localizada perto de marcos históricos ligados a Martin Luther King Jr., oferece uma perspectiva ponderada sobre o impacto de Donald Trump. “Como homem negro, posso dizer que o problema com Trump não é tanto suas políticas — que, se formos honestos, não foram tão ruins — mas sim sua retórica divisiva”, afirma Robinson.

Esta visão reflete a complexidade do sentimento político entre os eleitores negros, que foram cruciais para a eleição de Joe Biden em 2020. Apesar das altas expectativas geradas pelos protestos contra o assassinato de George Floyd, muitos sentem que as promessas de reforma substancial na polícia e justiça criminal não se materializaram, enquanto a situação econômica piorou, exacerbada pela inflação.

James Gresham, 32 anos, funcionário de um Walmart em Atlanta, expressa sua desilusão: “Votei em Biden esperando políticas que nos beneficiassem, mas a realidade não mudou. O custo de vida só aumentou, o que me faz questionar a eficácia do nosso voto.” A eleição de 2020 viu Biden conquistar 92% do voto negro, contra 8% para Trump, segundo o Pew Research Center. No entanto, pesquisas recentes indicam uma queda no apoio a Biden para 77%, enquanto Trump viu seu apoio crescer para 18% entre este grupo, com uma diferença ainda mais acentuada entre homens negros jovens.

Kamala Harris Luta para Reconquistar o Apoio Afro-Americano; Trump Reforça Laços com Conservadores Negros

Os democratas, agora com Kamala Harris, uma mulher negra e de ascendência asiática, como vice-presidente, esperam reconquistar o apoio perdido. Pesquisas em estados decisivos mostram que Harris tem uma avaliação ligeiramente mais positiva que Biden, mas ainda distante dos números alcançados por Barack Obama. Andra Gillespie, cientista política da Universidade Emory, especializada em política afro-americana, destaca a importância da participação eleitoral: “A eleição será decidida mais pela mobilização do que pela persuasão. A capacidade dos democratas de manter o entusiasmo gerado por Harris será crucial.”

Gillespie também enfatiza que a representatividade é um fator de engajamento para grupos historicamente sub-representados, argumentando que Harris precisa ir além da sua identidade racial e de gênero para conquistar votos. Enquanto isso, a campanha de Trump recalibra sua estratégia, tentando evitar acusações de racismo e machismo, enquanto busca fortalecer seu apoio entre os eleitores negros conservadores.

A dinâmica racial e política nos EUA continua complexa, com experiências como a de Justin, 26 anos, destacando as divisões raciais profundas que ainda permeiam o país. Iniciativas como os eventos “Charutos, conhaque e Congresso”, visam fortalecer o apoio a Trump entre os eleitores negros, com participantes como Najee, 61 anos, expressando apoio firme ao ex-presidente, apesar das controvérsias.

Esta paisagem eleitoral reflete uma América em busca de identidade e direção, com o eleitorado negro desempenhando um papel central nas decisões políticas futuras. A luta dos democratas para reconquistar o apoio perdido e os esforços de Trump para ampliar sua base entre os conservadores negros ilustram as estratégias divergentes que moldarão o cenário político americano nos próximos anos.