Em outros contextos de coalizão, as divergências eram meramente políticas entre facções democráticas
Em um posicionamento firme contra a realização de novos pleitos eleitorais ou a adoção de um modelo de governança compartilhada com o chavismo, María Corina Machado, figura central da oposição venezuelana, expressou na tarde de quinta-feira (15) que tais opções não estão na mesa de discussões da coalizão opositora, dada a atual crise política e social que assola a Venezuela.
Durante uma coletiva de imprensa, que contou com a presença de jornalistas de diversas regiões, a ex-parlamentar liberal, responsável por mobilizar milhares de venezuelanos em protestos pré-eleitorais, manifestou que a sugestão de novas eleições representa um desrespeito aos cidadãos do país. “Se os resultados não agradam ao regime, o que deveríamos fazer? Realizar uma terceira, quarta, quinta eleição? Isso seria aceitável em seus países? Ignorar os resultados insatisfatórios e convocar novas eleições? As votações ocorreram sob um regime tirânico,” argumentou Machado.
A líder opositora também criticou a proposta de formação de uma coalizão governamental, ideia que ganhou tração nas discussões promovidas pelo atual governo brasileiro sob Lula e, mais recentemente, pela Colômbia, liderada por Gustavo Petro. “É preciso ter cautela. Em outros contextos de coalizão, as divergências eram meramente políticas entre facções democráticas. A situação aqui é diferente. Propomos incentivos, mas dentro de um processo de transição democrática,” esclareceu.
Impedida de concorrer nas eleições e substituída por Edmundo González, Machado assegura que não há caminho de retorno. “Estamos comprometidos em manter a pressão e fortalecer nossa resistência interna de forma inteligente. Pela primeira vez em 25 anos de chavismo, após mais de 30 eleições, dispomos de evidências concretas de nossa vitória,” afirmou, referindo-se aos documentos eleitorais que vem divulgando.
Machado defende a negociação de uma transição política que permita a Edmundo González assumir a liderança no Palácio de Miraflores. “Não propomos um modelo de partilha de poder onde Maduro simplesmente oferece algumas posições e permanece no poder. Estamos, contudo, abertos a oferecer garantias, salvaguardas e incentivos durante o processo de negociação.”
Na mesma quinta-feira, o presidente brasileiro, Lula, reiterou a possibilidade de novas eleições ou a formação de uma coalizão local como soluções viáveis para a crise venezuelana. Em seguida, o presidente colombiano, Gustavo Petro, sugeriu, baseando-se no acordo que pôs fim à ditadura em seu país, um modelo de compartilhamento de poder para a Venezuela.
Essas propostas, entretanto, não são bem-vindas nem pela oposição, representada por María Corina Machado, nem pelo próprio regime chavista. Diosdado Cabello, figura proeminente do governo venezuelano, classificou como “absurda” a ideia de novas eleições proposta pelo assessor de Lula, Celso Amorim.
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