Dom Odilo revela bastidores do conclave que escolherá o sucessor de Francisco
Em meio à expectativa global pela escolha do novo líder da Igreja Católica, o cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, trouxe uma perspectiva surpreendente sobre o papel do papado.
“Os cardeais têm o encargo de escolher o papa da Igreja, não o governante do mundo inteiro”
declarou o cardeal de 75 anos, quando questionado sobre como problemas urgentes como guerras, crise climática e regimes autoritários poderiam influenciar a escolha do novo pontífice.
A declaração chega em um momento crítico para a Igreja e o mundo, com conflitos se intensificando em várias regiões e desafios globais exigindo liderança moral. No entanto, Dom Odilo enfatizou que o verdadeiro “grande desafio” do futuro papa será “cuidar bem da vida e da missão da Igreja”, mantendo-a “unida, firme na fé e dinâmica na missão”.
Brasil bem representado no Colégio Cardinalício
O arcebispo paulistano será um dos 133 cardeais votantes no conclave que definirá o sucessor de Francisco. Entre os habilitados, sete são brasileiros, com Dom Odilo e Dom Raymundo Damasceno Assis sendo os únicos com experiência prévia em conclaves – ambos participaram da eleição que consagrou o papa argentino em 2013.
Dom Raymundo, aos 88 anos, representa uma curiosidade: como oitavo brasileiro no Colégio Cardinalício, pode ser votado e até eleito, mas não tem direito a voto por ultrapassar o limite de idade de 80 anos estabelecido pelas normas vaticanas.
“Não é uma disputa político-eleitoral”
Contrariando a imagem popularizada por obras como o filme “Conclave”, Dom Odilo rejeitou comparações entre a escolha papal e campanhas políticas tradicionais. “Não se deve imaginar o conclave como uma disputa eleitoral, em que há partidos, candidatos, campanhas abertas e comícios. Isso não existe e é pura fantasia”, afirmou ao jornal O São Paulo.
Segundo o cardeal, a atmosfera pré-conclave é de serenidade e reflexão. “Os cardeais refletem sobre a Igreja e sua missão e sobre as diversas realidades e desafios postos ao futuro papa. E têm a possibilidade de se conhecer melhor”, explicou.
Cenário aberto pode trazer surpresas
Evitando fazer prognósticos sobre possíveis favoritos, Dom Odilo lembrou que o cenário atual pode reservar surpresas, assim como ocorreu em 2013, quando o cardeal Bergoglio, que não figurava entre os nomes mais cotados, acabou sendo eleito.
“Desta vez, a eleição está aberta e só saberemos quem será eleito quando houver fumaça branca”
comentou, utilizando a tradicional referência ao sinal que anuncia a escolha do novo papa.
Em declaração anterior, o cardeal brasileiro chegou a afirmar que “ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano para ser papa, ou um asiático, ou mesmo um italiano”, demonstrando a amplitude de possibilidades neste conclave que representa a universalidade da Igreja.
Legado de Francisco e a relação com o pontífice
Ao fazer um balanço do papado de Francisco, Dom Odilo foi generoso em seus elogios e destacou:
“Fica muito do legado não escrito, que foi seu exemplo, sua postura em relação aos pobres e descartados da sociedade, sua firme condenação da guerra e a luta pela paz e a fraternidade entre os povos, sua firme defesa da vida e do ambiente da vida”
Embora seja considerado mais conservador que o papa argentino, o cardeal brasileiro negou veementemente ter resistido às diretrizes de Francisco no início de seu pontificado. “Sempre as acatei com alegria e lealdade”, afirmou.
Perspectivas para o futuro da Igreja
Com o conclave se aproximando, a atenção mundial se volta para Roma e para as decisões que definirão o rumo da Igreja Católica nos próximos anos. A declaração de Dom Odilo sobre o papel do papa como “pastor da Igreja” e não como “governante do mundo” levanta questões importantes sobre como o próximo pontífice abordará seu papel em um mundo cada vez mais complexo e dividido.
Enquanto os 133 cardeais se preparam para entrar na Capela Sistina, uma coisa é certa: a decisão que tomarão terá impacto não apenas nos mais de 1,3 bilhão de católicos ao redor do mundo, mas potencialmente na forma como questões globais urgentes serão abordadas nas próximas décadas.
O conclave que escolherá o sucessor de Francisco começa em 7 de maio, e o mundo aguarda ansiosamente pela tradicional fumaça branca que anunciará: “Habemus Papam” – Temos um Papa.