A droga seguiu a “Nova Rota Caipira” do tráfico internacional
Mais um exemplo da importância das ações integradas entre forças de segurança” — Coronel Marcelo Granja, comandante da PMGO
Os olhos atentos à tela do monitor seguem um ponto que saiu da cidade boliviana de Puerto Quijarro. O alvo atravessa a lagoa que banha a cidade e é abastecida pelo Rio Paraguai. Em um barco, sete viagens são feitas na madrugada, para atravessar 3.250 quilos de cocaína até a margem brasileira. O motor de popa é reforçado, para conseguir levar tanto peso. A embarcação teve de passar por modificações, para aumentar a capacidade de carga. O plano é arrojado e chegar com a droga até São Paulo vai demandar de muita coragem, para encaminhar as 2.280 porções à Europa.
Um sobrevoo rápido entre uma fazenda e outra chega até a área menos alagada da região, em que o tráfego de veículos de cargas é mais comum. Uma só carreta não foi capaz de armazenar todo o conteúdo. Agora tudo segue em um veículo de carga. A carreta segue por rotas alternativas, no estado Matogrossense, entre uma propriedade privada e outra. Os dois motoristas e mais um assistente, cooptados para o serviço do transporte, tomaram uma decisão antes que seguissem por uma rodovia federal, já na altura de Alcinópolis – MS. Eles fugiram o combinado com a facção criminosa.
Os abastecimentos não eram para acontecer em rodovias com grande fluxo, mas não foi possível segurar tanto e o risco de pane seca era iminente. No posto de combustíveis, o momento certo para que um dos investigadores à paisana, em um carro disfarçado, se aproximasse do veículo carregado e pudesse fazer o trabalho necessário para que o monitoramento seguisse, mas pela distância, com uso de tecnologia.

O destino final do carregamento ainda era incerto para os policiais que participaram da apuração. Direto de um prédio de 20 andares, no Setor Marista, em Goiânia, a carga não saía da tela de três policiais rodoviários federais, em uma sala altamente monitorada, com acesso restrito apenas a 10 pessoas. O Serviço de Inteligência faz parte da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Goiás (FICCO/GO) e compartilha os detalhes com forças de segurança não só do Estado, mas de corporações coirmãs.
Dois policiais da inteligência do Comando de Operações de Divisas da Polícia Militar de Goiás (COD/PMGO) passam a integrar a apuração e, de outro ponto, compartilham os detalhes com o Departamento de Operações de Fronteira de Mato Grosso do Sul (DOF/MS).
NOVA ROTA CAIPIRA
O carregamento chega à Cabeceira Alta do Formoso-GO, às margens do Parque Nacional das Emas, território que divide Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Duas equipes do COD, batalhão responsável por blindar o acesso ao Estado de Goiás, são informadas sobre a presença da carreta no perímetro em que patrulhavam. A orientação: não proceder abordagem.

A rota por Goiás foi curta e, na altura de São Simão-GO, o trio atravessa a divisa com Minas Gerais. A rota escolhida foi de risco. Em território mineiro, o trânsito intenso de veículos e a passagem por rodovias federais expunha a carga a todos os tipos de perigos possíveis. A travessia de Minas Gerais para São Paulo aconteceu em Iturama – MG, onde um abastecimento completou os tanques com óleo Diesel.
É neste instante em que a PM paulista toma conhecimento da carreta e recebe informações a todo instante sobre localização. O monitoramento, que já era feito em Goiás e recebia imagens em tempo real a cada momento que passavam em um ponto monitorado da rodovia, deixou de receber imagens quando o grupo entrou em território paulista. A localização ainda seguia, mas a confirmação de que os aparelhos permaneciam fixados nos veículos, era incerta. Agora, o trabalho de confirmar era da PMSP.
A carreta segue por Tupã – SP, Sapezal – SP e Cervinho – SP. Mas não sai de Arraes – SP, onde os policiais decidiram abordar, prender o trio e apreender toda a carga, avaliada em R$ 162,5 milhões. A operação representa um grande prejuízo ao tráfico internacional de drogas.
TRABALHO DE INTELIGÊNCIA
O Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de Goiás, Coronel Marcelo Granja, comentou a importância da ação integrada. “Essa ocorrência representa mais um exemplo da importância das ações integradas entre forças de segurança, não apenas dentro do Estado de Goiás, mas em todo o território nacional, no combate ao tráfico de drogas. Reiteramos o nosso compromisso de fortalecer e incrementar ainda mais essas operações conjuntas, essenciais para impedir que drogas como essas fossem distribuídas em todo o país. A integração contínua entre as forças é a chave para o sucesso nessa luta”, disse.
Além disso, o Comandante do Comando de Operações de Divisas (COD) da PMGO, Major PM Hugo Jorge Bravo de Carvalho, reforçou a necessidade de um trabalho intenso de combate ao tráfico de drogas. “Com essa apreensão, que representa a segunda maior do Brasil em 2024 e uma das dez maiores da história, conseguimos retirar das ruas um volume considerável de droga, impactando diretamente as redes de criminalidade. Além disso, a prisão de dois indivíduos envolvidos reforça a importância do trabalho conjunto e da inteligência policial, fundamentais para fortalecer a luta contra o crime organizado e proteger a população”, declarou.
FICCO Goiás
Em novembro de 2023 a Secretaria de Segurança Pública de Goiás assinou a atualização do termo de cooperação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Estado de Goiás – FICCO/GO. A FICCO é uma integração dos trabalhos entre Policia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Polícia Militar, Polícia Civil e Policia Penal e possui como objetivo reprimir as ações de grupos criminosos no estado de Goiás.