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Operação contra vendas de sentenças deve mirar TJGO

Operação contra vendas de sentenças deve mirar TJGO

Investigação sigilosa apura corrupção passiva pelo alto escalão do Poder Judiciário de Goiás

No 19º andar do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), um Assessor Executivo de Desembargador fala com um advogado. Os dois comentam sobre a pauta do burburinho, na copa do andar. “Isso deve ser a qualquer momento, não sei se antes ou depois do recesso”, diz o servidor. O que eles tratam é sobre a possível megaoperação, que deve ser autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a qualquer momento, para fazer uma devassa em gabinetes de desembargadores do Estado. Uma quadrilha de desvio de influência e vendas de sentenças está em atuação e há indícios e provas suficientes para que mandados de buscas sejam decretados.

A toga — vestimenta que impõe austeridade aos atos jurídicos — pode, também, ser usada por criminosos membros do esquema; conforme apurado pela Polícia Federal, no relatório final de um Inquérito Criminal, com mais de 2 mil laudas. A peça faz parte de uma investigação sigilosa que apura corrupção passiva pelo alto escalão do Poder Judiciário de Goiás.

A operação prestes a acontecer — que inicia a reportagem — é desdobramento das ações já realizadas em Tribunais de Justiça de outros Estados. No dia 24 de novembro passado, cinco desembargadores do Mato Grosso do Sul foram afastados das funções, por determinação do STF. Uma quadrilha, com atuação direta no Judiciário do Estado e com braços no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Diálogos entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que se passou por advogado e tinha carteira da OAB falsa e o advogado Roberto Zampieri, morto com 10 tiros na porta do próprio escritório, deixam claras as vendas de sentenças no Mato Grosso do Sul e em Goiás. O telefone de Zampieri continha diálogos e provas suficientes, encontradas pela Polícia Federal, que deixavam clara a influência da dupla com desembargadores dos dois Estados e com servidores do STJ.

Uma reportagem de Aguirre Talento e Natália Portinari, do Uol, trouxe o título: “Lobista preso pela PF contratou filhos de desembargador do TJ de Goiás”. A reportagem revela que o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves tentou se aproximar de um magistrado e até chegou a na posse dele. Inclusive, há registro fotográfico. Anderson teria contratado os serviços de dois filhos do desembargador, em uma ação no tribunal.

Lobista Anderson de Oliveira Gonçalves (dir) com o desembargador Wilton Müller ao centro | Foto: Reprodução

Trecho da reportagem:

Em 2 de agosto de 2023, Andreson exibe a Zampieri uma troca de mensagens de WhatsApp com o futuro desembargador do TJ de Goiás Wilton Müller Salomão. Na conversa, Müller envia o convite para sua cerimônia de posse. O lobista o parabeniza e pergunta sobre como seria o jantar de comemoração. ‘Obrigado queridão. O jantar do dia 19 ainda não está com os convites prontos. Mas será na Casa Lis. E você e a Mirian são meus convidados’, escreveu. Andreson compareceu à posse acompanhado da própria mulher, a advogada Mirian Ribeiro Gonçalves, e compartilhou com Zampieri diversas fotos do evento. Posaram, inclusive, ao lado do novo desembargador. No dia seguinte, Andreson enviou a Zampieri os dados de dois filhos do desembargador, advogados em Goiânia, para serem contratados em um processo. ‘Na segunda já te mando o subs (documento para constituir os filhos como advogados no processo) e o memorial’, respondeu Zampieri.

A reportagem segue:

Os nomes dos filhos, Luiza Rabelo Müller Salomão e Bruno Rabelo Müller Salomão, aparecem como uma mensagem encaminhada no WhatsApp. Ambos são incluídos em um processo por Zampieri em documento de 21 de agosto de 2023. O cliente de Zampieri, o produtor rural Clodoveu Alves Cabral, estava tentando ganhar um recurso sob a competência de desembargadores do TJGO. Em 2 de setembro, a filha do desembargador faz um pedido no processo. Uma semana depois, em 9 de setembro, o recurso é rejeitado pelos desembargadores do TJ-GO, como queria o cliente de Zampieri.

O trecho tem as seguintes respostas dos citados:

Procurada, Luiza afirmou ao UOL que a informação sobre sua contratação é pública e que não tem como comentar a investigação da Polícia Federal. “Por se tratar de investigação sigilosa, só tomo conhecimento das informações que são divulgadas ao público, assim como o restante da população. Não tenho acesso a detalhes além do que é noticiado”, disse a advogada. O desembargador não quis se manifestar.”

A Polícia Federal de Goiás informou que a investigação é feita pela Superintendência do Estado e que, em caso de decisões futuras, cumpre as medidas de forma irrestrita. O Tribunal de Justiça de Goiás não comenta sobre o caso.

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